Podemos considerar como substâncias nocivas todas aquelas que têm potencial para causar danos agudos ou crónicos para a saúde humana. A abolição do seu uso é essencial para uma vida saudável. Consideramos o uso de tabaco e de nicotina, de álcool e de outras substâncias psicoativas, cujo denominador comum é o seu carácter aditivo.
O tabaco é uma das principais causas evitáveis de morte prematura por cancro, por doenças respiratórias e por doenças cérebro-cardiovasculares. O tabagismo afeta todos os órgãos do corpo e os fumadores perdem, em média, 10 anos de esperança média de vida.
O fumo do tabaco não afeta só quem o consome, mas também quem convive com o fumador. O tabagismo passivo é responsável por doenças e mortes em conviventes com fumadores, sendo as crianças o grupo mais vulnerável pela imaturidade dos seus sistemas. Um ambiente totalmente livre de tabaco e de nicotina é a única proteção contra o tabagismo passivo e inclui tanto não fumar nas imediações de outras pessoas (tabagismo secundário), mas também não fumar em locais cujos produtos do tabaco ficam depositados, p.ex. sofás e estofos dos carros, e que poderão ser re-inalados, ingeridos ou absorvidos pela pele (tabagismo terciário).
Em Portugal, o tabaco contribui para uma morte a cada 50 minutos, e nas pessoas entre os 50 e os 59 anos 1 em cada 4 mortes é devida ao tabaco! Temos assistido a um aumento crescente de fumadoras e o último Inquérito Nacional de Saúde revelou uma prevalência acima dos 25% no grupo de idade 25-34 anos. Esta situação é particularmente alarmante pelos múltiplos riscos do tabagismo na gravidez, tanto para a grávida, como para o feto.
Recentemente chegaram aos nosso país novas formas de consumo de tabaco e de nicotina (o tabaco aquecido e os cigarros eletrónicos) que se apresentam como “opções saudáveis” pela indústria que os desenvolveu. No entanto, a posição das sociedades científicas no nosso País é clara: “a melhor forma de salvaguardar a saúde humana é a prevenção da iniciação de qualquer forma de consumo e o apoio médico para cessação tabágica”
Deixar de fumar é a melhor opção para se tornar mais saudável e mais livre! Os benefícios da cessação tabágica manifestam-se poucas horas após a cessação e acumulam-se ao longo dos dias, dos meses e dos anos!
Todos os fumadores têm dois tipos de dependência: uma dependência comportamental e uma dependência física, mas estas podem ter preponderâncias diferentes consoante o perfil de fumador. Existem testes (e.g. Teste de Fagerstrom) que permitem estimar o seu nível de dependência física à nicotina. Níveis mais altos de dependência podem beneficiar mais de medicação adjuvante na cessação tabágica, a qual deve ser mantida durante 3 meses, para ajudar a combater os sintomas de privação. A terapêutica de substituição de nicotina é de venda livre mas deve ser bem utilizada.
Independentemente do seu nível de dependência, é benéfico a todos os fumadores criarem estratégias alternativas para lidar com a vontade de fumar que dura apenas 3 minutos, adiando o consumo, um cigarro de cada vez. Veja algumas dicas úteis aqui: 15 passos para deixar de fumar.
Se é um dos 7 em 10 fumadores que quer deixar de fumar, consulte onde existe consulta de apoio intensivo mais perto de si (informação atualizada a 14-01-2023):
Consultas de cessação tabágica - ARS Norte
Consultas de cessação tabágica - ARS Centro
Consultas de cessação tabágica - ARS Lisboa e Vale do Tejo
Consultas de cessação tabágica - ARS Alentejo
Consultas de cessação tabágica - ARS Algarve
Recursos úteis
Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo
Cigarro Eletrónico: Posição da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (22-12-2014)
Produtos de Tabaco Aquecido: Posição das Sociedades Científicas Portuguesas (02-04-2019)
SICAD - Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
Truth Initiative
O abuso do consumo do álcool representa um sério problema de saúde pública.
Em Portugal, esta é uma problemática com um peso significativo e com um contexto cultural associado. Sabe-se que no nosso país o consumo médio (cerca de 13,4 litros/ano) é superior ao da média Europeia, o que representa mais do dobro do consumo médio mundial.
Um estudo de 2011 mostrou que a prevalência do consumo em níveis superiores ao recomendado pode atingir os 34% na região de Lisboa. De acordo com dados portugueses de 2016-2017 (inquérito a população de 15-74 anos residente em Portugal), as prevalências de consumo de qualquer bebida alcoólica foram de 85% ao longo da vida, 58% nos últimos 12 meses e 49% nos últimos 30 dias. Entre os consumidores atuais, o consumo diário/quase diário de alguma bebida alcoólica era de 43%. O consumo binge tem ganho cada vez mais destaque, tanto pelos seus riscos conhecidos como pelo aumento de prevalência deste tipo de padrão de consumo nas camadas mais jovens. As prevalências de consumo binge e de embriaguez severa nos últimos 12 meses foram de: 10% e 5% nos 15-74 anos e de 11% e 7% nos 15-34 anos.
“Problemas ligados ao álcool” é uma expressão cada vez mais utilizada para designar as consequências nocivas do consumo de álcool, consequências essas que atingem não só o bebedor, como também a família e a comunidade em geral. As perturbações causadas podem ser físicas, mentais ou sociais e resultam de episódios agudos, de um consumo excessivo ou inoportuno, ou de um consumo prolongado. Especificando, sabe-se que o consumo de álcool acima dos limites recomendados aumenta o risco de inúmeras doenças (como por exemplo doenças mentais, doenças no fígado, cancros (e.g. boca, faringe, laringe e esófago, fígado e mama), doença coronária, cerebrovascular e de infeções pelo VIH, tuberculose e pneumonia). Durante a gravidez, o consumo de álcool leva a alterações no desenvolvimento cerebral do feto que, por sua vez, podem originar défices intelectuais (o risco aumenta de forma dose-dependente). No emprego, pode causar diminuição de rendimento laboral, aumento do absentismo e acidentalidade e levar a reformas prematuras. Além disso, consumo excessivo de álcool é responsável pelo aumento dos níveis de criminalidade, violência doméstica e sinistralidade rodoviária.
Efetivamente, conclui-se que o consumo de álcool em excesso representa uma porção significativa das causas de morte evitáveis. A nível mundial, morrem aproximadamente 3 milhões de pessoas por ano devido ao consumo excessivo de álcool. Dessas mortes, 28.7% foram devido a acidentes, 21.3% por doenças do sistema digestivo, 19% por doenças cardiovasculares, 12.9% por doenças infeciosas e 12.6% por doenças neoplásicas.
Por norma, uma unidade bebida padrão corresponde a 10 gramas de álcool puro.
De acordo com as orientações portuguesas, a quantidade máxima diária recomendada para indivíduos saudáveis é: a) No homem (dos 18 aos 64 anos): duas bebidas padrão ou 20g de álcool puro; b) Na mulher e homem após os 65 anos: uma bebida padrão ou 10g de álcool puro.
Combater o consumo excessivo de álcool e os riscos associados passa, também, pela prevenção. Destacamos a importância das rotinas diárias e construção de hábitos que não sejam incompatíveis com a saúde, da realização pessoal e reforço de autoestima, da manutenção de um emprego digno, do contacto social e a promoção da estabilidade pessoal e familiar.
O resultado do tratamento vai depender sempre de inúmeros fatores dos quais se destacam a motivação e o envolvimento do seu ambiente próximo no tratamento e reintegração sociofamiliar, laboral e comunitária.
Não hesite em procurar ajuda para deixar de beber. Os profissionais de saúde podem orientá-lo e existem medicamentos que podem ajudar no processo terapêutico.
Referências bibliográficas
Ministério da Saúde (2018), Retrato da Saúde, Portugal.
Norma Orientação Clínica 30/2012- Deteção Precoce e Intervenção Breve no Consumo Excessivo de Álcool (2014)
INPG 2016/17 - IV Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População Geral, Portugal 2016/17
Ribeiro C. Family medicine approach to alcohol consumption: detection and brief interventions in primary health care. Acta Med Port 2011;24 Suppl 2:355-68.
Mello M. et all. Álcool e problemas ligados ao álcool em Portugal. 2001
GBD 2016 Alcohol Collaborators. Alcohol use and burden for 195 countries and territories, 1990–2016: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. August 23, 2018 DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31310-2
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